Alfredo Oliveira Ferreira nasceu na Nazaré no dia 3 de Abril de 1939, filho de pais nazarenos. Filho de um industrial do ramo automóvel, completou os estudos fazendo o curso industrial na escola Afonso Domingues, em Lisboa, regressando de seguida à Nazaré.
Cantou o fado pela primeira vez, teria cerca de 12 ou 13 anos, num casamento no Porto, perante mais de 100 convidados. Dai em diante, continuou a cantar, aqui e ali, sem lugar certo.
Como não quis seguir os estudos, pois “…nunca gostei de estudar”, e sendo um jovem aventureiro, juntamente com um seu amigo, partiu para umas pequenas férias em Espanha, mas os 8 dias que pensavam ficar em Madrid, transformaram-se em 23 meses um pouco por toda a Europa. Em Paris trabalharam no que lhes aparecia: Alfredo como “empregado de limpeza” e o seu amigo como moço de copa num hotel. Um dia, no hotel onde o amigo trabalhava, cantou o fado, na festa de anos da proprietária, lá se encontrando o fadista Carlos Ramos, que o incentivou a cantar mais umas músicas. No mesmo hotel, encontrava-se o Rancho Folclórico Tá-Mar da Nazaré, e como Alfredo e o amigo já tinham sido componentes deste rancho, e na bagagem tinham levado o trajo tradicional nazareno, dançaram com grande êxito. Clara d’Ovar estando também ela presente, convidou-o para o seu retiro de fados. Durante algum tempo Monderrei (nome artístico de Alfredo) deixou as “limpezas”.
A aventura prosseguiu, desta vez na Bélgica, corria o ano de 1956, onde arranjaram emprego em diversos pavilhões da Feira Internacional, amealhando o necessário dinheiro para seguirem viagem. Seguiu-se a Alemanha, Suécia, Itália, Holanda e por fim a Inglaterra.
De volta a Portugal, o Serviço Militar ocupou-lhe 5 anos, tendo sido destacado para a Guiné, ocupando o posto de Sargento Miliciano numa Companhia de Caçadores, com a especialidade de mecânico-auto.
De volta à Nazaré, sua terra amada, abre um negócio, uma casa de fado a que deu o nome de “Cabana”, em homenagem às casas dos pescadores, sendo a decoração em tudo idêntica a estas “cabanas”, com o chão de areia da praia, onde as bebidas estrangeiras não tinham entrada, somente o vinho a correr da pipa, para copos e canecas, não existindo talheres “finos”, apenas pratos de barro, onde eram servidos carapaus secos, assados ou fritos, sardinha assada, ou caldeiradas, e o vinho tinto e branco, verde ou maduro. Nos meses de verão (de junho a setembro) o fado reinava na “Cabana”.
Mas o fado não era a sua profissão, ganhando a vida na garagem de que era gerente, juntamente com o cunhado.
Nunca foi homem de palco, sentindo-se mesmo “infeliz”, gostando de cantar para pequenos grupos, na sua maior parte pescadores, que muito o apreciavam, pela sua voz quente e melodiosa.
Se os verões eram passados na “Cabana”, na Nazaré, os invernos eram no “Inferno da Azenha”, nas Caldas da Rainha, propriedade de Luís Barreto. Albergava esta casa uma clientela ligada ao teatro, música, entre outras artes, e numa bela noite, Alfredo cantando para a plateia, encantou Rui Ferrão, realizador de cinema (entre muitas outras profissões), que o incentivou a seguir a carreira de fadista, mas Monderrei não se dava bem com os grandes recintos de espetáculo, o que não o impediu de ser o vencedor da “Guitarra de Ouro”, num programa de rádio, realizado por Marcos Vidal, com o fado “Nova Barca Velha”.
No ano de 1971 faz a sua estreia na Rádio Televisão Portuguesa, agradando de tal forma, que é convidado por marca internacional, a “Belter”, para a gravação de um disco.
Na biografia da “Belter” era assim descrito: “Alfredo Monderrei é um novo fadista. Natural da Nazaré, onde nasceu em 1938. Nunca abandonou a sua terra, ali possuindo uma garagem e oficina de que vive e quer continuar a viver.
O que é o fado para Alfredo Monderrei? Uma distração e nunca um modo de viver – por mais de uma vez tem afirmado que não pretende ser fadista profissional.
Como é Monderrei? Caracter realista. Liberal nos seus atos. É expansivo e aprecia a naturalidade. O cinema é o seu espetáculo favorito – Jean Gabin e Gregory Peck são os seus artistas favoritos. Admira Ana Magnani, a mais completa atriz a seu modo de ver. Já praticou desporto: foi júnior de futebol no Clube Oriental de Lisboa e durante sete anos jogou nos “Nazarenos”. De teatro é um apreciador de dramas; na literatura tem especial simpatia por Jorge Amado e pela sua obra “Terras do sem fim”.
A principal característica de Monderrei é interpretar o fado como o sente, sem preocupações de seguir esta ou aquela moda ou escola. É um intérprete de alma e coração e não de voz”.
Alfredo Monderrei tinha como seu ídolo no fado, o grande Alfredo Marceneiro, e nas suas andanças musicais, foi apadrinhado pela mundialmente famosa e aclamada Amália Rodrigues. De salientar ainda, que além de ter sido jogador de futebol do Grupo Desportivo “Os Nazarenos”, foi também Presidente do grupo.
Alfredo Monderrei é pai de três filhos: Maria João, Miguel e Pedro.
Ainda hoje, Monderrei lá vai cantando o fado, mas somente para amigos ou familiares, dividindo o seu tempo entre a Nazaré e os Estados Unidos.
Alfredo Monderrei
- :: Vocalista